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Uma das principais consequências da conclusão do leilão em que a V.tal apresentou a única proposta de compra da ClientCo, por R$ 5,7 bilhões (sem entrada de recursos em dinheiro no caixa da operadora), é que a Oi precisa correr atrás de R$ 1,5 bilhão urgentemente, para suprir as suas necessidades de caixa. Foi o valor que ficou faltando dos R$ 7,3 bilhões que a Oi esperava receber na venda da base de clientes. De certa forma, esse recado ficou implícito quando a companhia, em fato relevante, disse que não se confirmaram as projeções de caixa para depois da alienação da ClientCo e que por isso precisará refazer suas projeções.

Esses recursos que ficaram faltando nas projeções virão por meio de endividamento novo, que inclusive está previsto no Plano de Recuperação Judicial para estas situações. Ou virão da venda de imóveis. Ou ambos, numa combinação de empréstimo com garantias reais, segundo apurou este noticiário. Trata-se, portanto, de um novo obstáculo a ser vencido pela operadora.

Acordo com AGU

A venda dos imóveis passa, em grande parte, pela conclusão do acordo de migração do regime de concessões para autorizações que a empresa busca com a Anatel. A migração é que retirará da Oi as obrigações de concessionária e a possibilidade de reversibilidade de alguns ativos da Oi para a União (categoria em que se enquadram muitos dos imóveis da operadora e a rede de STFC). Esse acordo só será concluído após o aval da Advocacia Geral da União, que deve sair nas próximas horas: o prazo é segunda, dia 30, com expectativa de que possa ser assinado ainda nesta sexta, 27.

Uma das condições acertadas entre Oi e AGU, segundo apurou este noticiário, é que a arbitragem da empresa contra a União não será encerrada. Isso significa que, no futuro, uma receita nova pode entrar no caixa da empresa. Lembrando, contudo, que pelo acordo firmado com o TCU, a primeira parte desse possível ganho de arbitragem deve pagar a dívida com a União (até R$ 7,5 bilhões), em seguida o recurso iria para a amortização da dívida com a V.tal pelo acordo de migração (R$ 5 bilhões); e só depois sobrariam recursos para o caixa da operadora.

Oportunidades e riscos com a “nova V.tal”

Se por um lado a oferta da V.tal pela base de clientes da Oi foi abaixo do valor estimado pela companhia na valoração da ClientCo, o fato é que a V.tal, da qual a Oi é sócia, ganhou outras frentes de negócio e potencial de crescimento com a sua nova estrutura.

A avaliação de observadores ouvidos por este noticiário é que a divisão da V.tal em três empresas separdas cria, de cara, uma operadora de banda larga com 4,3 milhões de clientes pagando R$ 100 por mês, em média, e sem dívida. É uma empresa respeitável, de R$ 5 bilhões de receitas anuais que nasce com uma estrutura mínima, ou seja, com custos bem mais enxutos do que a Oi carregava.

Isso dará à empresa a chance de crescer em ritmo muito mais intenso do que a Oi vinha conseguindo. No mercado, também se destaca a possível liderança de Márcio Fabbris, virtual CEO da nova empresa, reconhecido como um executivo experiente e conhecedor do mercado de consumo residencial.

Já a unidade de rede neutra (que manterá a marca V.tal), tem o desafio de assegurar independência para os atuais clientes e atratividade para novos parceiros. Mas o fato de a própria ” V.tal Clientes” (a nova marca da ClientCo ainda não está definida) precisar ser competitiva nos serviços de banda larga residencial deve fazer com que a “V.tal Rede”, por isonomia, ofereça infraestrutura neutra por condições mais vantajosas a todo o mercado, atraindo assim, potencialmente, novos clientes para a rede neutra.

E, por fim, a unidade de data center, que já vinha em desenvolvimento dentro da V.tal, ganha vida própria e o impulso dos investimentos que serão feitos como parte do acordo firmado entre Oi e a Anatel (que prevê investimentos em cabos submarinos e data centers). O acordo com o TCU prevê investimentos de R$ 3,3 bilhões para cinco data centers que poderão ser instalados em Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Campinas, Barueri, Porto Alegre ou Curitiba, a critério da V.tal.

Além disso, três unidades separadas têm mais oportunidades individuais de capitalização, de busca de novos parceiros e de novos acordos de M&A, o que indiretamente beneficia a Oi como acionist. Mas para colher estes frutos, a Oi não pode ser diluída pelos investimentos dos controladores da V.tal e os credores da Oi precisam ter paciência de médio ou longo prazo, sem acelerar a venda destas ações para recuperarem seus créditos.

Tudo isso ainda precisará ser costurado nos acordos de acionistas entre os credores da Oi e a V.tal tão logo saiam as autorizações necessárias à venda da ClientCo.

Fonte: Teletime